Nodo Norte e Nodo Sul nas Doze Casas

Os nodos lunares são pontos matemáticos, invisíveis a olho nu, que traçam um eixo de grande importância simbólica no horóscopo. No entanto, o que realmente representam esses pontos enigmáticos no mapa natal? Que natureza é essa, atribuída a uma criatura celeste que carrega o nome de um demônio sagaz e traiçoeiro? Ao longo do século XX, surgiram múltiplas interpretações — diversas, contraditórias, e por vezes desconectadas da tradição astrológica.
Apesar da ampla difusão contemporânea, a interpretação dos nodos lunares como indicadores de karma (associado ao Nodo Sul) e dharma (vinculado ao Nodo Norte) é uma construção recente, amplamente desconectada das fontes tradicionais da astrologia. Essa leitura, popularizada sobretudo por vertentes espiritualistas do século XX, projeta sobre os nodos um simbolismo moralizante e progressista, sugerindo que o Nodo Sul representa padrões negativos do passado que devem ser superados, enquanto o Nodo Norte aponta um caminho evolutivo que se deve alcançar. Tais associações, ainda que ressoem com o imaginário esotérico moderno, não encontram respaldo sólido nos tratados clássicos, e acabam por distorcer a função desses pontos no mapa, reduzindo sua complexidade a uma narrativa linear de redenção.
Em termos tradicionais, os nodos lunares — conhecidos como Cabeça e Cauda do Dragão — são pontos de interseção entre a órbita da Lua e a eclíptica solar. Sua natureza sempre foi considerada ambígua e problemática.
Autores como Guido Bonatti e Ben Ezra já atribuíam significações distintas aos nodos, mas sem cair em dicotomias redentoras. Em algumas tradições, o Nodo Norte (Cabeça do Dragão) é descrito como sendo de natureza semelhante a Júpiter, indicando expansão, exagero e incremento; o Nodo Sul (Cauda do Dragão), por sua vez, teria afinidade com Saturno, sendo associado à perda, à contenção e ao declínio. Contudo, é preciso entender que essa expansão e contração não são, por si só, sinônimos de “bom” e “ruim” — mas sim processos que, dependendo do contexto do mapa, podem indicar tanto fertilidade quanto excesso, tanto purificação quanto esterilidade.
Há ainda interpretações que atribuem aos nodos uma natureza ilusória, como véus que obscurecem a visão clara da realidade. De acordo com essa abordagem, tanto a Cabeça quanto a Cauda simbolizariam formas de distorção: a primeira pela inflação do desejo, pela ânsia de acumular e crescer; a segunda pela recusa, pelo vazio, pela tendência à dissolução. Nessa leitura, os nodos não representam necessariamente uma missão ou um legado a ser cumprido, mas sim regiões do mapa marcadas por instabilidade e polarização, onde os eventos podem ser inflados ou desidratados, desviando a consciência de sua justa medida. Assim, compreender os nodos exige mais do que recorrer a narrativas simplistas — requer um olhar atento às suas condições no mapa, seus regentes, casas e aspectos, para então discernir o modo como essa dupla cabeça de serpente manifesta seus enigmas no teatro do céu.
A seguir, uma interpretação do Nodo Norte e Nodo Sul nas Doze Casas Astrológicas, por Abu' Ali Al-Khayyat, de sua obra "Os Julgamentos das Natividades":
"A Cabeça na 1ª casa denota autoridade e boa fortuna, de acordo com a sua mistura com os planetas. A Cauda denota problemas, diminuição e obstáculos em todos os empreendimentos, e danos num dos olhos.
A Cabeça na 2ª casa, aumento na propriedade e boa fortuna muito grande. A Cauda do Dragão, pobreza e uma derrocada de um elevado patrimônio.
A Cabeça na 3ª casa promete irmãos nobres e afortunados, e sonhos verdadeiros. Mas a Cauda, a dispersão dos irmãos e irmãs.